[Mês da Mulher] 8M

E é hoje o dia. Como todos os outros, uma seleção de mulheres extraordinárias que merecem ser conhecidas. No dia da mulher, apresento:

REGINA DALCASTAGNÈ

Não consigo imaginar uma pessoa amar literatura a ponto de se dedicar de fato a ela e não conhecer o trabalho da Regina Dalcastagnè.

Regina é professora de literatura brasileira da Universidade de Brasília e pesquisadora no CNPq, e coordena o Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea.

Editora das revistas “Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea” e “Veredas”, da Associação Internacional de Lusitanistas, Regina ainda é responsável pelas Edições Carolina e autora dos livros “Literatura brasileira contemporânea: um território contestado”, “Representación y resistencia en la literatura brasileña contemporánea” e “O espaço da dor: o regime de 64 no romance brasileiro”, entre outros.

É isso? Não, claro que não. Em parceria com a Zouk e outras pesquisadoras/es publicou ainda “Literatura e cidades”, “Literatura e periferias”, “Literatura e resistência”, “Literatura e direitos humanos”, “Literatura e exclusão”, “Espaços possíveis na literatura brasileira contemporânea” e “Espaço e gênero na literatura brasileira contemporânea”.

Mas isso é só um currículo, e um currículo não é capaz de expressar a grandeza de caráter de um ser humano, em especial um ser humano como a Regina. Não apenas uma pesquisadora com um trabalho de respeito (uma das pesquisas de Regina está anotada no caderninho que carrego comigo sempre) e de vital importância em um país em guerra contra a educação e a cultura, mas principalmente, Regina é aquela pessoa que faz a diferença.

Ela está na linha de frente, diariamente. Professora e pesquisadora da área da literatura, Regina levanta suas bandeiras com firmeza e de cabeça erguida vivendo na mesma terra onde vivem também aqueles que transformaram nosso país num “amontoado de monte de” (parafraseando certo alguém) caos. Meu aprendizado com ela é constante, e minha admiração por ela não cabe nessas linhas.

NATALIA BORGES POLESSO

Quem já conversou comigo por pelo menos meia hora não se surpreende ao encontrar Natalia Borges Polesso nessa lista porque sim, eu falo muito dela. E bom, a culpa é toda dela.

Natalia é minha conterrânea, a conheci uns dias antes de um painel que eu apresentaria sobre literatura LGBT e ela, sabendo disso, me deu um exemplar do livro “Amora”. Não, minha admiração por ela e nossa amizade não nasceu porque ganhei o livro dela, tudo isso aconteceu porque ela é uma pessoa incrível mesmo.

Natalia é graduada em Letras e já está no Pós-Doutorado com toda uma trajetória ligada à literatura, sendo, além de pesquisadora, tradutora e, óbvio, escritora. No seu currículo estão “Recortes para álbum de fotografia sem gente”, “Amora” (que ganhou o Jabuti), “Pé Atrás” e “Controle”, que tem resenha nesse blog.

Como tradutora, é responsável pelas obras “Tituba, a bruxa negra de Salem”, de Maryse Condé, “Nós e Eles”, de Bahiyyih Nakhjavani, e “A casa na rua Mango”, de Sandra Cisneros. Já que o assunto é Natalia internacional, foi selecionada, em 2017, para a lista Bogotá39, que reúne 39 escritores abaixo dos 40 anos mais destacados da América Latina e seu trabalho é traduzido em diversos países, como Argentina, Espanha e Estados Unidos.

Se não bastasse, um trecho de “Amora” esteve no ENEM em 2018, sendo lido por mais de 5 milhões de participantes e agora Natalia, em seu projeto pós-doc, trabalha na gigante missão de mapear a literatura homoafetiva feita por mulheres com o tema “Geografia Homoafetiva”. Natalia é outra pessoa ímpar que a literatura colocou na minha vida, que apesar desse imenso currículo, preserva a simplicidade e a humildade e que tem me ensinado muito nesses anos que eu tenho a honra de conviver com ela.

MARIA HELENA LACAVA

Maria Helena Lacava é provavelmente uma das mulheres mais anônimas a passar por esse espaço nesta ação, mas pra quem reside em Caxias do Sul (RS) e frequenta livrarias/Feira do Livro, Maria Helena é uma figura bastante popular.

Depois de 10 anos no mercado livreiro, Maria Helena assumiu um grande risco e abriu seu próprio negócio, a Livraria Mercado de Ideias.

Durante 25 anos, a Mercado de Ideias esteve em uma galeria no centro da cidade, se tornando um animado ponto de encontro de várias gerações de leitores, e onde Maria Helena transformou clientes em amigos.

Frequento a livraria desde sua abertura e Maria Helena teve um papel muito importante na minha formação como escritora, chegando a me presentear com livros que considerava interessantes para os temas que eu pretendia trabalhar.

Apaixonada por literatura, sente na pele as dificuldades de ter um pequeno negócio voltado à cultura e, depois de 25 anos no centro da cidade, Maria Helena fechou a sala da galeria e levou a Mercado de Ideias para um endereço mais distante. O que ficou pra trás foi a sala, a livraria segue firme, porque Maria Helena é livreira de coração.

ANÉLIA PIETRANI

Anélia Pietrani transformou sua jornada acadêmica e profissional em uma luta pela visibilidade das mulheres da literatura.

Doutora em Literatura Comparada pela UFF, é Professora Associada de Literatura Brasileira na UFRJ e coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos das Mulheres na Literatura (NIELM/UFRJ).

É Anélia quem leva para as salas de aula da UFRJ as mulheres que escreveram no passado e as mulheres que estão escrevendo hoje, mostrando que não apenas temos uma história a contar, mas temos todo um futuro a escrever.

Sua pesquisa e docência é o ativismo da literatura produzida por mulheres na prática, no cotidiano, e através dele Anélia já organizou e publicou uma série de livros, tais como “O enigma mulher no universo masculino machadiano”, “Experiência do limite: Ana Cristina Cesar e Sylvia Plath entre escritos e vividos”, “Euclides da Cunha: presente e plural”, “Euclides: mestre-escola”, “Escritas do corpo feminino: perspectivas, debates, testemunhos”, “Crônica Trovada da Cidade de San Sebastian e Cantada da Cidade do Rio de Janeiro de Cecília Meireles”, além de diversos artigos publicados em periódicos.

Anélia ainda tem um cuidado especial: não leva para a sala de aula somente nomes consagrados, pessoas amplamente divulgadas pela mídia, com grandes volumes de vendas ou figurinhas obrigatórias em grandes eventos; ela apresenta aos seus alunos também a literatura produzida por mulheres que ainda lutam por um espaço, abre corações e mentes às invisíveis e dá às autoras e aos alunos a chance do encontro do texto com o leitor.

VALESCA DE ASSIS

Já conhecia Valesca de ouvir falar aqui e ali até que a adicionei no Facebook e nos demos muito bem. Daí Valesca veio na Feira do Livro aqui da terrinha para um painel e nos conhecemos ao vivo.

Embora tenha mil coisas para falar de Valesca, tem algo que não posso deixar de mencionar porque tem tudo a ver com essa ação do mês da mulher.

Quando estávamos no local do painel aguardando o início da atividade, uma pessoa se aproximou dela e disse: “tu é a esposa do Assis Brasil?”. Não sei se isso a incomoda ou não, mas como fã do trabalho DELA, me incomodou.

Valesca é formada em Filosofia, especialista em Ciências da Educação, publicou “A valsa da medusa”, “A colheita dos dias” (também editado em Portugal), “O livro das generosidades”, “Harmonia das esferas”, “Todos os meses”, “Diciodiário”, “Vão pensar que estamos fugindo”, “Um dia de Gato”, “Apanhar do chão” e “A ponta do silêncio”, que tem resenha aqui no blog.

Entre seus inúmeros prêmios, Valesca destaca o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) 2000: revelação de autor, Prêmio Especial do Júri da União Brasileira de Escritores 2000, Prêmio Livro do Ano da Associação Gaúcha de Escritores 2003 em Crônica, Troféu Palavra Viva 2010 (Sintrajufe), Prêmio AGES Livro do Ano Infantil 2011, Prêmio Ages Livro do Ano 2017 Narrativa Longa.

Ela ainda ministra oficinas de descobertas criativas no Brasil e em Portugal via internet e foi Patrona da 63ª Feira do Livro de Porto Alegre. Então, meus caros, independente do estado civil, filiação ou parentesco, essa é Valesca de Assis, escritora reconhecida, premiada e maravilhosa.

ADÉLIA MATHIAS

Graduada em Letras Português e respectiva literatura pela Universidade de Brasília, Adélia não teve uma trajetória fácil nas vias acadêmicas. Infelizmente ainda vivemos em uma realidade onde uma mulher negra com o currículo de Adélia é uma exceção.

Formada em Letras, Adélia partiu para o mestrado em Literatura e Práticas Sociais também pela UnB e hoje está radicada na Alemanha, onde realiza seu Doutorado na Johannes Gutenberg-Universität Mainz.

Seu objeto de estudo é a literatura afro-brasileira, racismo no campo literário brasileiro, autoria de mulheres, literatura contemporânea, literatura marginal e cultura e religiosidade afro-brasileiras. Se tem uma coisa que não habita o corpo dessa mulher é a preguiça! Haja fôlego (e ainda bem que temos pesquisadoras com fôlego como Adélia, e com estômago para suportar o machismo que ainda impera em muitos centros acadêmicos).

Mas se eu já estava achando que ela faz muito, o currículo ainda não acabou! Adélia também integra o grupo de pesquisa VOZES FEMININAS CNPq/UnB e o grupo de estudos interdisciplinar Calundu, que recebe apoio do departamento de Sociologia da instituição. Um dia quero a chance de ouvir Adélia falando sobre suas pesquisas!

MORGANA KRETZMANN

Morgana é uma mulher em movimento, e, como tal, trata a palavra como movimento também.

Foi assim que Morgana se tornou atriz, roteirista, produtora cultural e escritora, criando projetos que misturam literatura, teatro e cinema em perfeita conjunção de ideias.

Entre seus projetos está o “Festival Garopa Literária”, levando literatura à praia de Garopaba.

Como quem gosta do inusitado, Morgana também criou o projeto “Universo Bortolotto”, levando leituras encenadas de peças de Mario Bortolotto para os bares de Porto Alegre, projeto premiado, inclusive. Atualmente é idealizadora e produtora do projeto “EmCena na Merça – Doses de Leituras Encenadas”, levando trechos de livros contemporâneos para a Mercearia São Pedro, em São Paulo.

No teatro, dirigiu e fez a adaptação dramatúrgica do livro “Big Jato”, de Xico Sá, no Rio de Janeiro, além de atuar em diversos espetáculos adultos e infantis. No cinema trabalhou em diversas produções, com destaque para o curta “A Pedra”, premiado nacional e internacionalmente e que abriu o Festival de Gramado de 2019 junto com o aclamado Bacurau.

Incansável, como dá pra perceber, recentemente Morgana lançou pela Patuá a novela “Ao pó” (que um dia vai ganhar resenha aqui, ah, se vai) e está trabalhando em uma série de livros infantis com temáticas ambientais chamadas “Os Super Solos”, em parceria com o ilustrador Fábio Zimbres.

É importante frisar que Morgana se movimenta sempre no sentido de propagar cultura. Seja em seus projetos (imagina encenar trechos de livros em bares! Fantástico!), seja na dramaturgia e agora na literatura propriamente dita. Morgana é uma apaixonada, e transparece isso com uma simpatia ímpar. Morgana foi um dos presentes que 2020 me deu.

LILIA GUERRA

Lilia Guerra é ariana, a gente perdoa porque não é culpa dela (brincadeira, não entendo nada de signos). A primeira coisa que me chamou a atenção nela foi o nome. Lilia, é o nome da minha mãe. Contei a ela, só por contar mesmo, e ela enviou seu último livro, a coletânea de contos “Perifobia” de presente para minha mãe.

Não tem preço o olhar feliz de uma mãe emocionada. Lilia Guerra ganhou meu coração. Daí a gente foi se conhecendo melhor e ela ganhou meu coração por vários outros motivos, como por exemplo: ela é talentosa, ela é querida, ela é amável, ela é doce, ela é guerreira, ela é parceira, ela é uma mulher maravilhosa.

Tive a chance de conhecer Lilia ao vivo, ganhar um abraço incrível dela e comprovar todas as minhas impressões.

“Perifobia”, o livro que Lilia amorosamente enviou de presente à minha mãe, foi indicado ao Prêmio Rio de Literatura e é uma obra que considero indispensável pelas suas nuances e pelas realidades que ele denuncia, porque Lilia sabe construir uma narrativa. E muito bem.

Além de “Perifobia”, Lilia também é autora do romance “Amor avenida” e de textos publicados em coletâneas e revistas literárias.

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Celebramos 8M em grande estilo. Sem dúvida o seria independente das mulheres selecionadas entre as tantas que estão participando do projeto, mas hoje, pelo 8 de março, trouxe 8 mulheres!

#Maya

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